Entrevista ao Professor Doutor Manuel Braga da Cruz

O Professor Doutor Manuel Braga da Cruz, Reitor da Universidade Católica de Lisboa durante 12 anos, (de 2000 a 2012) deu-nos a honra de iniciarmos a 2ª edição de "Os Melhores Livros, As Melhores Leituras" com a sua entrevista.

Quando surgiu o seu gosto pela leitura?

Eu, quase que podia dizer que nasci com os livros. Eu nasci num meio rural, nos arredores de Braga, numa aldeiazinha chamada Tadim, de onde é a minha família. Aí, onde eu nasci, havia uma grande biblioteca, onde eu me habituei a passar muitos e bons tempos. Portanto posso dizer que nasci ao pé dos livros. Depois, tenho na minha família uma grande tradição livreira. O meu bisavô era livreiro e editor. E quer o meu pai, quer o meu avô, tinham um grande culto pelos livros, que eu herdei e hoje sou frequentador de bibliotecas e leilões. E depois, porque tenho uma relação quase profissional com os livros. Os livros são a minha vida, a minha profissão. Tenho de os escrever e para os escrever tenho que ler. Eu e os livros temos uma relação umbilical e indissociável.

Quais os livros que o marcaram?

Eu diria que, entre os livros que seguramente mais me marcaram, está, em primeiro lugar, o primeiro livro que eu tive. E o primeiro livro que eu tive, que está hoje na minha biblioteca, é o mais antigo livro que eu tenho, é um livro que me deu o menino Jesus. Numa noite de Natal, quando eu dormia, ele veio pô-lo no sapatinho. Trata-se de "O Romance da Raposa" de Aquilino Ribeiro. É uma edição com ilustrações para crianças e é um livro que eu guardo com muita ternura na minha biblioteca porque tem escrito, pela a minha própria mão: “Deu-mo o menino Jesus no Natal de 1952” – tinha eu seis anos. Esse é com certeza um dos livros que me marcou porque é aquele de que eu tenho a mais antiga memória de relação com os livros. Depois, o livro "Eu e Tu" de Martin Buber, autor sobre o qual eu fiz a minha primeira tese, de Filosofia, e sobre o qual eu fiz o primeiro artigo publicado na Revista Portuguesa de Filosofia. Este livro marcou-me profundamente. Acrescentaria a "Mensagem" do Fernando Pessoa que foi um livro que me deu razões, que ainda hoje conservo, para me orgulhar de ser português. Citaria estes três como sendo os que merecem destaque, por razões diferentes.

Quais os escritores que mais o marcaram ao longo da sua vida?

Para além dos citados, poderia citar na História, Cristopher Dawson, um historiador católico que escreveu um livro que ainda hoje muito me ajuda a compreender o que é a Europa e a sua formação. E citaria, na minha área, que é a área da Ciência Política, entre os autores que mais importantes foram nas minhas reflexões, Hannah Arendt com "As Origens do Totalitarismo" e Stein Rokkan, com o seu clássico famoso "Cidadãos, Partidos e Eleições".

Há algum livro a que acabe sempre por voltar?

O livro a que volto sempre é o "Novo Testamento" porque não é um livro que apenas se leia, muito menos uma vez. É uma fonte de inspiração, é uma bússola da vida e é, simultaneamente, o princípio e o fim de todas as coisas.