2.ª Edição



Entrevista ao Professor Doutor Jorge Vaz de Carvalho



Professor, escritor, tradutor e cantor lírico, o Professor Jorge Vaz de Carvalho levou-nos numa viagem pela história da Literatura, desde a Grécia Antiga ao Portugal do século XX. Entrevista a Jorge Vaz de Carvalho, no âmbito da 2ª edição d’Os Melhores Livros. As Melhores Leituras, um projeto da Livraria UCP.

Quando surgiu o gosto pela leitura?

O meu gosto pela leitura surgiu ainda antes de saber ler. A primeira imagem que tenho dos livros, e uma das mais felizes da minha vida, era a de meu pai a ler-me historias infantis, quando eu teria dois ou três anos. Lembro-me perfeitamente das manhãs de domingo, saltava para a cama deles e o meu pai ficava a ler-me histórias. A minha mãe, por outro lado, dedica-se mais à leitura da História de Portugal. Quando entrei para a primária, já sabia ler e escrever. Depois, o gosto foi-se aperfeiçoando, lendo muitas outras coisas. As memórias de infância ligam-se, sobretudo, aos livros de “Os Cinco”, de Enid Blyton e a um conjunto de obras que lia, ainda sem consciência de que eram os grandes livros da tradição ficcional universal, como por exemplo, o “Robinson Crusoe” de Daniel Defoe, “As Aventuras de Huckleberry Finn” de Mark Twain, “A Ilha do Tesouro” de Robert Louis Stevenson. Lia pelas histórias de aventuras e pelo divertimento que representavam para mim.

Essas são as minhas primeiras memórias. Depois, comecei muito cedo a ler os clássicos portugueses. Lembro-me muito bem de, aos treze ou catorze anos, sensivelmente, ter de pedir uma autorização especial aos meus pais para me ser consentido ler determinados romances de Eça de Queirós. (risos)

Quais os autores que o marcaram ao longo da sua vida?

Desde sempre que um dos meus prazeres vivenciais foi ler, portanto é muito raro o período histórico, ou literário, que não me interesse. Desde a poesia grega arcaica, os grandes dramaturgos gregos: Ésquilo, Sófocles, Eurípedes, Homero – “Ilíada” e “Odisseia”. Uma trilogia de poetas latinos que admiro imenso: Vergílio, Ovídio e Horácio. Quando fui para Itália, li os grandes poetas da escola siciliana da corte do Frederico II, que são extremamente importantes: é quando se faz, pela primeira vez, um soneto. A lírica galaico-portuguesa medieval, que me parece uma poesia absolutamente fascinante, e ainda estou na Idade Média! Os romances de cavalaria e o próprio Gil Vicente. O período da cultura universal que mais me interessa é o Renascimento Italiano, sobretudo Dante, Petrarca e Bocaccio. No Renascimento português, obviamente, Camões. A grande figura dessa altura é, para mim, Shakespeare, pois é provavelmente o maior génio literário que eu já li. Cervantes, com a obra absolutamente magistral Dom Quixote. Em poesia, William Blake. A tradição alemã, que é muito importante: Goethe, Schiller, Novalis, Hölderlin.

Toda a grande tradição do romance inglês e americano, que começa no século XVIII e que no século XIX tem expoentes absolutamente admiráveis: Walter Scott, Jane Austen, Dickens entre tantos outros. A tradição do romance francês, vem com Stendhal, Balzac, Zola, Dumas, Flaubert. Dos grandes poetas do século XIX, são para mim fundamentais, e acompanham-me constantemente: Baudelaire e Walt Whitman (um dos prediletos de Fernando Pessoa). Depois, Pessanha e Pessoa. No século XX admiro profundamente Joyce, Proust, Mann, Kafka, Musil. E dos portugueses, Jorge de Sena, acima de todos. A poesia portuguesa do século XX, é extremamente rica: Jorge de Sena, Eugénio de Andrade, Ruy Belo, Sophia de Mello Breyner e Herberto Hélder. Temos uma literatura extremamente apelativa e estimulante.

O que é que eu posso dizer? Ler é a minha vida.

Quais os livros que nunca abandonam a sua mesa-de-cabeceira?

Há livros que revisito constantemente e, por isso, nunca chegam à estante, estão sempre ao meu lado: o “Ulisses” de James Joyce, o “Em Busca do Tempo Perdido” de Marcel Proust, o “O Homem sem Qualidades” de Musil, o “A Montanha Mágica” de Thomas Mann e “Sinais de Fogo” de Jorge de Sena, da narrativa do século XX. Depois há sempre, na minha mesa-de-cabeceira, uma peça de Shakespeare, a poesia de Petrarca e “A Divina Comédia” de Dante. Acho graça à gente que diz que nunca conseguiu ler o “Ulisses” de Joyce até ao fim porque eu li-o, várias vezes, desde o primeiro ano da faculdade. Lembro-me, quando vivia em Itália, de ter tido umas saudades enormes de Joyce e comprei uma tradução italiana. Quando o traduzi, li-o umas dezenas de vezes. Quando ele foi editado, pensei: “Bom, agora não vou pegar em Joyce tão cedo.” E na semana seguinte estava com tantas saudades de Joyce e de um capítulo específico que fui reler. Agora, que vou para férias, vai ser um dos livros que vou levar para reler, umbilicalmente, na minha tradução.



Ulisses

Autor: James Joyce
Editora: Relógio d'Água | Ano: 2013
ISBN: 9789896413798 | Págs: total 752 
PVP: 24€ 
Preço UCP: 21,6€ (-10%)



Sinais de Fogo

Autor: Jorge de Sena
Editora: Guimarães Editores | Ano: 2009
ISBN: 9789726656272 | Págs: total 664 
PVP: 29,28€ 
Preço UCP: 26,35€ (-10%)