2.ª Edição



Entrevista à Professora Doutora Teresa Líbano Monteiro



A Professora Doutora Teresa Líbano Monteiro aceitou o desafio de ser entrevistada para a 2ª edição de "Os Melhores Livros, As Melhores Leituras". Um testemunho memorável.

Quando surgiu o gosto pela leitura?

O meu gosto pela leitura surgiu muito, muito cedo. Os livros interessavam-me, mesmo fisicamente e havia muitos em casa. Quando tinha seis anos, na minha escola, no Beiral, transmitiam muito o interesse por Sophia de Mello Breyner. O primeiro livro que li foi “O Rapaz de Bronze” e seguiram-se outros da mesma autora. Lia muitos livros que eram seletas para crianças e algumas histórias interessavam-me particularmente, porque eram insólitas, estranhas. Não as sentia como histórias para crianças. Mais tarde percebi que todas elas, por exemplo “A Criança-Estrela”, “O Aniversário da Infanta” e o “Rouxinol e a Rosa”, eram histórias que Oscar Wilde contava aos filhos ao deitar e que depois passou para suporte escrito.

Na adolescência, período de interrogações, alguns autores “ocuparam-me” muito tempo: Hermann Hesse com os livros “O Lobo da Estepe” e “Demian”; Jorge Luís Borges com o seu livro de contos “Aleph” (“Deutsche Requiem”, “A Casa de Astérion”, “Os Teólogos”) e, também “O Jardim dos Caminhos que se Bifurcam”; Gabriel García Márquez com a obra “Cem Anos de Solidão”. Na poesia, Fernando Pessoa foi muito importante, principalmente Álvaro de Campos, Alberto Caeiro, mas também Bernardo Soares.

Estudei Direito, mas não terminei o curso e mudei de área, para a Sociologia, em meu entender, do ponto de vista literário muito mais interessante.

Na Sociologia ensinam-nos uma maneira nova de olhar a realidade, a relação entre as pessoas, em sociedade. Desta área destaco Karl Marx, Max Weber, Michel Foucault e Hannah Arendt. Uma escrita diferente, mas igualmente atraente é a de Jean-Claude Kaufmann, um sociólogo suíço, que escreveu livros interessantes como “A Mulher Só e o Príncipe Encantado”, na área da sociologia da família. Este autor procura detalhes do quotidiano, faz uma sociologia do infinitamente pequeno. No entanto, não colocaria a sua escrita ao nível dos autores que referi anteriormente. Esses mostram-nos uma realidade que nunca tinha sido vista e têm, por isso, uma escrita genial.

Há livros aos quais tenha por hábito retornar?

Há dois autores que me interessam muito e que revisito. Marguerite Yourcenar, cuja obra li quando atingi a maturidade: “Alexis ou o Tratado do Vão Combate”, “As Memórias de Adriano”, “A Obra ao Negro” – o meu livro preferido desta autora – e “O Labirinto do Mundo”. Jorge Luís Borges é outro autor que releio. Os contos de Anton Tchekohv dizem-me muito. Destacaria “Saudade”, que é um conto absolutamente extraordinário. Seria um taxista de hoje em dia, alguém que conduz as pessoas de um ponto para outro, e a quem morreu um filho. Ele quer falar da morte do seu filho, mas não consegue fazê-lo com nenhum humano, nenhum o ouve. Tem uma vontade enorme de desabafar e só à noite, quando vai desatrelar a égua do coche e a vai alimentar, é que fala com ela sobre a perda enorme que teve.

Outros dois contos extraordinários são “Dos Apontamentos de Um Homem Velho” e “Kashtanka” que conta história de uma cadela que se perdeu. Tchekohv tem a capacidade de se colocar no lugar do outro, seja ele quem for. É um autor que releio com muita frequência.



A Obra ao Negro

Autor: Marguerite Yourcenar
Editora: Dom Quixote | Ano: 2009
ISBN: 9789722037600 | Págs: total 352 
PVP: 16.15€ 
Preço UCP: 14,54€ (-10%)



Contos de Tchékhov - Volume I

Autor: Anton Tchekhov
Editora: Relógio D'Água | Ano: 2006
ISBN: 9789727086405 | Págs: total 332 
PVP: 18.17€ 
Preço UCP: 16,35€ (-10%)