1.ª Edição
Do percurso profissional que fez devem ter contado muitas leituras interessantes. A primeira pergunta que lhe coloco é quando e como desenvolveu o gosto pela leitura?
É uma pergunta muito interessante mas à qual eu não lhe sei responder com exactidão. Comecei a ler muito jovem; em casa dos meus pais e dos meus avós havia muitos livros e o ambiente em que cresci sempre teve a presença de livros. Aprendi a gostar de os manusear, mesmo antes de saber ler, e a partir da escola primária comecei a ler regularmente. Hoje, ler é o meu hobby de eleição.
Nesse sentido, pergunto-lhe: A leitura e a literatura tiveram um papel importante na sua vida, tanto a nível pessoal como profissional?
A leitura, seguramente. A literatura também, mas eu leio sobretudo as grandes obras de filosofia política, que é a minha área. Tenho várias colecções de clássicos desse tema, desde a Grécia Antiga até à actualidade e revisito-as frequentemente. E tenho prazer em repetir essas leituras, reler Alexis de Tocqueville, Edmund Burke, Thomas Macaulay & Harry Pilgrim. Por isso não estou muito actualizado acerca de novos autores, não estou sempre a ler o último livro que saiu. Sou um leitor peculiar, mais propenso para os clássicos.
Tendo em conta a sua experiência literária, qual considera ser a melhor leitura que fez até hoje?
Há várias muito importantes para mim, mas se quiser que eleja um livro ou um autor, esse é Karl Popper – A Sociedade Aberta e os Seus Inimigos (1945). O livro tem dois volumes e eu tenha várias edições da obra. É um livro que eu li já relativamente tarde, em 1980 e marcou-me muito porque penso que é o livro que o século XX fez a crítica mais devastadora ao marxismo e que defende a sociedade aberta – cujo ideal, segundo Popper, emergiu em Atenas, no século V a.C., inspira a civilização crsitã, europeia e ocidental, e alicerça as democracias liberais que temos hoje. Na ficção, o meu autor de referência é Jane Austen, a escritora que a meus olhos melhor exprime como as maneiras e a imaginação moral sustentam uma sociedade livre e aberta.
E qual o escritor que mais o marcou?
Karl Popper (no século XX), Tocqueville (no século XIX) e Burke (no século XVII). Há muitos outros, mas escolheria estes sobretudo pelas ideias e pela força com que as suas mensagens são transmitidas. Não é um fenómeno puramente técnico, é antes pela força literária, pela estilo, pela palavra e pelo rigor argumentativo com que estes autores escrevem.
Por fim, pedia-lhe que recomendasse um livro, uma obra que para si seja de leitura obrigatória.
Disso não tenho dúvidas, é "A Sociedade Aberta e os Seus Inimigos", de Karl Popper. São dois poderosos volumes, que neste momento estão em português numa boa tradução das Edições 70. É um livro que está publicado em todas as línguas do mundo e que em inglês tem dezenas de reimpressões. Sou um pouco maníaco de Popper, mas pelos vistos não sou o único. Escolo este livro porque, como diz o autor: Sabemos muito pouco, cometemos muitos erros, mas podemos aprender com os nossos erros. E para podermos aprender com os nossos erros, temos de ter uma “open society”, uma sociedade e uma mente aberta à crítica, ao confronto de ideias. É esta a mensagem principal deste livro e no fundo da filosofia de Popper. E ler livros, nesse aspecto, pode ser um contributo importante para o confronto de ideias.