Entrevista ao Professor Doutor Alexandre Castro Caldas

O Professor Doutor Alexandre Castro Caldas aceitou gentilmente o convite da Livraria para deixar o seu testemunho na iniciativa Melhores Livros, Melhores Leituras. O Director do Instituto de Ciências da Saúde (ICS) da UCP esteve à conversa connosco no dia 10 de Maio, de onde resultou esta entrevista.

Enquanto autor de centenas de publicações científicas, o seu passado na leitura também deve ter sido vasto. Em que altura surgiu o seu gosto pela leitura?

Isso começou bem cedo, com os livros d’”Os Cinco”, os livros que lemos quando somos miúdos. Lembro-me de ler livros infantis, de ler a “Flecha Negra” de Robert Louis Stevenson. Mas o livro mais marcante da minha adolescência foi “A Escola do Paraíso”, de José Rodrigues Miguéis, que o meu irmão mais velho me ofereceu com uma dedicatória. Como tínhamos uma biblioteca muito grande acabávamos por ler os livros uns dos outros; e a minha vida literária começou sem grande orientação, ia lendo o que apanhava.

Considera que as leituras que fez tiveram um papel importante na sua vida pessoal e profissional?

Isso tem sempre, nós vamos percebendo o mundo pelas leituras que vamos fazendo. Até houve uma situação em que a minha vida profissional enquanto estudante ficou prejudicada pela leitura, neste caso pelo Fiódor Dostoiévski. Pus-me a ler uma obra dele, que não é um autor de leitura fácil, e isso prejudicou-me o estudo para uns exames que tive na altura.

E quais são as obras que considera serem as melhores leituras que fez até hoje?

É muito difícil dizer qual é a melhor. Eu tenho-me esforçado por ler os livros que são considerados clássicos. Gostava de ter lido a “Eneida”, mas nunca li. Talvez o livro que eu elejo como aquele pelo qual tenho mais afecto é o “Dom Quixote”, que considero um livro de aventuras fantástico, escrito numa época que acho que não era própria. Julgo que tem um pouco a ver com o professor de português que tive, que gostava muito da obra. Comecei por ler a tradução do Aquilino Ribeiro, que é uma lição de português, e mais tarde li a do Miguel Serras Pereira, que foi meu colega nas aulas do mesmo professor de português. É um livro que me acompanha há muito tempo.

Qual é o escritor que mais o marcou, do qual guarde uma recordação especial?

Eu não tenho um autor preferido, para isso era necessário mudar de profissão e ser mais organizado nas leituras, porque a minha leitura tem sido mais de textos científicos.. Há no entanto, autores que quando leio aprecio muito, como Umberto Eco, que é um profissional da escrita. Também gosto de David Lodge, um inglês, que é também um autor que sabe escrever um romance, tem um sentido de humor muito grande e que eu aprecio imenso. E depois gosto dos autores da América do Sul. Gosto de Mario Vargas Llosa, julgo que li quase tudo dele… Gosto de Jorge Luis Borges, de Isabel Allende…

Se tivesse de eleger um livro que para si seja de leitura obrigatória, qual escolheria?

De facto tem de ser o “Dom Quixote”, sem dúvida nenhuma. Posso sugerir também a leitura de “À la recherche du temps perdu” de Marcel Proust. É um livro que é preciso ler devagar, está cheio de mensagens e reflexões sobre a estrutura do pensamento humano. É uma obra, que entra um pouco na minha área de interesse: a Neuropsicologia. Tinha outros que podia recomendar, mas o “Dom Quixote” é de leitura essencial.