Entrevista ao Professor Doutor João Lourenço

João Lourenço é um nome incontornável da cultura Teológica portuguesa. O Professor prestou tributo à iniciativa “Os Melhores Livros. As Melhores Leituras” e explicou de que forma a leitura tem sido essencial na sua vida pessoal e profissional.

O Professor João Lourenço é formado em Teologia e teve experiências profissionais no estrangeiro (em Macau e Jerusalém), de onde terá captado perspectivas e realidades diferentes. Mas gostaria de começar por lhe perguntar: em que altura ganhou particular gosto pela leitura?

Eu tenho um gosto muito grande pela leitura. Não teria feito o percurso que fiz sem o auxílio dos livros e os instrumentos que as leituras fornecem. Foram eles que me capacitaram cientificamente e que me deram outras capacidades como o despertar artístico, a compreensão da História, a visão do Mundo, a construção de uma escala de valores, enfim, de perspectivas não apenas pessoais mas também de análise social. Gostei de ler desde muito cedo. Lembro-me que quando estava no ensino secundário, actual 10º e 11º anos, fiz várias ‘directas’ a ler obras de Camilo Castelo Branco, Júlio Dinis, Alexandre Herculano, Eça de Queirós, e também poesia, de [Luís de] Camões, António Ferreira, Gil Vicente… Foi uma panóplia de leitura ‘livre’ que fiz nessa altura.

E considera que essas ou outras leituras tiveram um papel importante na sua vida pessoal e profissional?

Sim, tiveram. Desde que comecei a leccionar, naturalmente que tive de dedicar imenso tempo à leitura. Pode ser uma virtude e um defeito, no sentido em que permite melhorar o serviço prestado aos alunos mas ao mesmo tempo estreita as opções. Tenho lido sobretudo obras que estão direccionadas para as temáticas em que desenvolvi conhecimentos, obviamente. Mas lia não só obras metodológicas, sobre a área de estudo, mas também as novidades literárias nesse tema. Enquanto docentes, temos de fazer um acompanhamento contínuo das obras que vão saindo.

Atendendo a toda a experiência literária que tem feito, quais são as melhores leituras que já fez? E porquê?

Eu não lhe saberia dizer exactamente quais as melhores leituras que fiz, mas saberei identificar a leitura mais proveitosa e fecunda que já fiz. Tem obviamente relação com a minha área de formação e diz respeito aos conhecimentos provenientes da Bíblia. Não só no domínio da inserção histórica mas também no contexto geográfico e social do pensamento bíblico, no simbolismo, na filologia e obviamente na dimensão da espiritualidade e do pensamento religioso.

E quais são os seus autores de eleição, ou os que mais o marcaram?

Eu diria que, neste domínio, a pessoa que mais me marcou na área do conhecimento bíblico foi o meu tutor da tese de doutoramento, o professor Frédéric Manns, que é um homem com um profundo conhecimento do Judaísmo, que é uma área que sempre me fascinou imenso. Ainda hoje me sinto muito marcado pelo seu pensamento.

Se lhe pedisse para eleger um livro que considerasse de leitura obrigatória, qual seria?

Vou talvez ser um bocadinho atrevido e o livro que eu escolheria era o ‘Apocalipse’, das escrituras. É um livro carregado de esperança, com uma simbólica muito rica e com um dinamismo aberto ao futuro. Acho que é um dos livros mais bonitos da Humanidade. E um segundo, seria o ‘Livro dos Salmos’, que tem tudo. Tem a densidade humana em tudo aquilo que ela é e a abertura ao transcendente. Escolhia os Salmos para poder cultivar o espírito no quotidiano, e o Apocalipse para poder sonhar com um horizonte infinito de esperança, que é sempre necessário em cada época.