Entrevista ao Professor Doutor João César das Neves

Com o início do ano letivo, a Livraria UCP retoma o projeto “Os melhores Livros. As melhores Leituras” com a colaboração do Professor João Cesár das Neves, docente na Catolica Lisbon School of Business & Economics. O seu contributo foi sem dúvida enriquecedor e bastante interessante.

O que o levou a desenvolver o gosto pela leitura?

Eu diria que não sou um leitor muito precoce. Comecei a ler a sério por volta dos 12, 13 anos. E assim que comecei a perceber o prazer de ler tenho tido sempre pelo menos um ou mais livros que estou permanentemente a ler. Por exemplo, eu levava um livro para o cinema para ler nos intervalos, pelo que os meus pais gozavam imenso comigo. Passei a ser omnívoro; leio coisas diferentes, livros muito diferentes. Tem muito a ver com o esforço de procurar aceder ao tesouro do pensamento. Uma das coisas que me preocupou sempre foi o melhor que o espírito humano fez ao longo dos séculos e que eu não conheço. Nunca tive formação em literatura e portanto sou completamente instintivo, sempre fui à procura por mim mesmo, sem orientação.

Qual tem sido a importância da leitura ao longo da sua vida pessoal e profissional?

É quase um vício! Como disse, tenho sempre um ou dois livros que estou sempre a ler e tenho um monte de livros que estão em lista de espera para ler a seguir. Nas férias escolho sempre um livro grande, com milhares de páginas, para me dedicar inteiramente a ele. É uma importância que tem um reflexo porque depois comecei, eu próprio, a escrever livros, a estudar economia e isso faz parte da importância do livro. Ao fim e ao cabo, o livro é um instrumento central de trabalho e da minha vida.

De todas as leituras que já fez até hoje, qual ou quais considera as mais importantes? E porquê?

É muito difícil escolher um. Mas para mim seria, certamente a Bíblia, que é um livro que leio todos os dias, várias vezes ao dia. Já o li e reli, fiz questão de ler da primeira à última página e é, de facto, um livro incomparável com os outros. Há, no entanto, um livro que eu celebro todos os anos o dia em que o comprei, que já estou a ler há quase vinte anos, que é a Suma Teológica de São Tomás (de Aquino). Encontrar este livro mudou completamente a minha maneira de pensar nas coisas e portanto tenho o livro, já o li de ponta à ponta e volto atrás para o reler. São estes dois livros os mais importantes na minha vida. Tenho outros, mas é muito difícil escolher. Por exemplo, na minha juventude devorei Júlio Verne.

E qual foi o escritor que o marcou mais?

Se eu tivesse que escolher um autor seria São João Evangelista. Temos os outros como São Mateus, São Lucas, mas de facto, se tivesse que escolher só um, seria S. João pela sua importância na minha vida, pela maneira como escreve, pela sua emoção. Da literatura nomearia Shakespeare, que também tenho estudado muito, seguido muito, lido muito e que me interessa particularmente. Dos autores portugueses, seria Eça de Queirós, entre outros.

Se pudesse nomear um livro imprescindível de ler qual seria? Porquê?

Terá de ser o Novo Testamento. Os outros todos são muito importantes, mas não há nada que ultrapasse esse livro. Aliás, a maior parte dos outros que leio são sobre o Novo Testamento. Não só é indispensável ler, como reler e reler até à exaustão. Depois há outros; lembro-me do meu fascínio quando li As Guerras das Gálias de Júlio César – foi um livro que me marcou. A História da II Guerra Mundial de Wiston Churchil, enfim, tudo isso são livros que, tal como a Suma Teológica, formam o modo como escrevo e como penso. (O Novo Testamento) muda o mundo, muda a história, muda a minha história; responde à pergunta e orienta a minha vida. É o conforto com Cristo, é o Caminho e a Luz. Portanto, o resto, são notas de pé de página.