Revista Gaudium Sciendi - Nº8
-
ARTIGOS
AS HUMANIDADES EM REGRESSO-A MEMÓRIA COMO EXPERIÊNCIA DO FUTURO
José Manuel do Carmo Ferreira
Resumo: Uma reflexão que procura colocar a questão das humanidades num plano para além de considerações epistemológicas, socioculturais, político-institucionais, ou de uma simples legitimação instrumental. As Humanidades são encaradas como exercício da memória, mas da memória como expectativa e abertura ao futuro; o trabalho desta consiste num processo de identificação e de reconhecimento. As Humanidades surgem então como operadores de mediação. Cultivating Humanity: o título da obra de M. Nussbum impõe-se como o programa permanente das Humanidades.
Palavras chave: Memória, história, reconhecimento, identidade, mediação
Abstract: A reflection which seeks to put the humanities question in a plan beyond epistemological, sociocultural, political and institutional considerations or of a mere instrumental legitimation. Humanities are seen as an exercise of memory, but memory as expectation and openness to the future, its work consists of a process of identification and recognition. Humanities then appear as mediation operators. Cultivating Humanity: the title of M. Nussbaum's work imposes itself as the permanent program of Humanities.
Keywords: Memory, history, recognition, identity, mediation
A TEORIA DO DOM
Pe Roque Cabral
Resumo: Um dom só se realiza como dom segundo uma estrutura trinitária. A gratidão é como que imanente à aceitação do dom. O mesmo se podia dizer a partir da palavra "graça", que significa precisamente o mesmo que dom. A Igreja lembra-nos, nos prefácios da Missa, que devemos dar graças a Deus sempre e em toda a parte, pois não há tempo nem lugar algum em que não nos envolva a amorosa providência do Pai, do Filho e do Espírito.
Palavras-chave: Dom; Gratidão; Graça
Abstract: A gift only exists as a gift according to a trinitary structure. Gratitude is immanent to the acceptance of the gift. The same could be said about "grace", which means exactly the same as gift. The Church reminds us, in the Mass prefaces, that we should give graces to God always and everywhere, for there is no time or place in which the loving grace of the Father, the son and the holy spirit does not involve us.
Keywords: Spiritual Gift; Gratitude; Grace
THE INADEQUACY OF THE "TWO WORLDS" THEORY FOR PLATO'S THEORY OF BEING AN ALTERNATIVE READING: THE THEORY OF BLEND AND GRADATION
Lucas Williams
Resumo: A "Teoria dos dois Mundos" constitui uma interpretação específica da conclusão do Livro V da República de Platão, e a questão de saber se é uma leitura correcta ou a única leitura possível deste inquérito continua em aberto. A teoria sugere que ser e devir estão tão afastados entre si que constituem dois reinos distintos absolutamente, o que parece contradizer a hipótese de que as coisas em devir (os particulares) mostram semelhança com o que verdadeiramente é, ou seja, as Formas – como o próprio Sócrates presume. Mas o alcance do acesso humano ao conhecimento (a capacidade que lida com o que "é em todos os sentidos"), como consequência de um homem de participar no reino dos particulares (o do devir), parece sugerir uma interligação, uma mistura, uma gradação do ser para devir não ser. Os seres humanos não seriam capazes de pensar ou imaginar o que é de modo algum (não poderia existir sequer uma tentativa de conhecimento) se não houvesse essa gradação, essa mistura de ser e não ser. Isso porque as naturezas do que é e o que está entre o que é e o que não é seriam totalmente distintas, ou seja, dois mundos diferentes. Sugerimos que esta demarcação absoluta só parece aplicar-se entre o ser e o não ser, como completamente distintos um do outro. Dito isto, a Teoria alternativa de gradação também apresenta dificuldades. O problema pode ser formulado assim: se o devir é uma mistura de ser e não ser, em que ambos estão presentes e não completamente isolados e mas ser e não ser são completamente distintos, em que ponto o devir "deixa de ser", por assim dizer? Em que ponto, o devir perde completamente a sua participação no ser, e se torna não ser (ou deixa de ser)? Este constitui um problema conceptual e metafísico real e, portanto, sugere a necessidade de conciliação.
Palavras-chave: República, Platão, Teoria das Ideias, Ser, Devir, Particulares, Graduação
Abstract: The ‘Two Worlds Theory’ constitutes a specific interpretation of Plato’s conclusion of Book V of the Republic, and the question of whether it is a correct reading or the only reading of this inquiry remains open. The Theory suggests that being and becoming are separated from one another to such an extent that they constitute two absolutely distinct realms, which seems to contradict the assumption that the things that become (the particulars) bear a likeness to what is, i.e. the Forms—which Socrates himself assumes. But the scope of human access to knowledge (the power that deals with what "in every way is"), following from man’s participating in the realm of the particulars (that of becoming), seems to suggest an intermingling, a blend, a gradation from being to becoming to not being. Human beings would not be able to think or conceive of what is at all (there could not exist even an attempt at knowledge) if there were not this gradation being manifested, this blend of being and not being. This is because the nature of what is and what is in between what is and what is not would be entirely distinct, i.e. comprising two different realms. We suggest that this sort of absolute demarcation would seem to apply to that between being and not being, as being entirely distinct from one another. This said, the alternative Blend and Gradation Theory also presents the problem that, if becoming is indeed a blend of being and not being with access to the two of them and not completely isolated, and if being and not being are completely distinct, at what point does becoming "cease to be", as it were? At what point does becoming lose its participation in being completely, and become what is not? This, we suggests, constitutes a real conceptual and metaphysical problem, and therefore warrants attempts at reconciliation.
Keywords: Republic, Plato, Theory of Ideas, Being, Particulars, Blend, Gradation
ENSINAR E APRENDER FILOSOFIA: UM TESTEMUNHO
Maria Luísa Ribeiro Ferreira
Resumo: Este texto é um conjunto de reflexões sobre a experiência de ensinar e de aprender filosofia. O ponto de partida é vivencial mas presume-se que poderá interessar a todos os professores e investigadores desta área. Trata-se de uma tentativa de demonstrar a íntima relação entre o estudo, a investigação, o ensino e a aprendizagem. Em qualquer grau de ensino o professor de filosofia deverá convidar os seus alunos a pensarem por si mesmos, mergulhando-os no terreno flutuante do questionamento e fornecendo-lhes instrumentos que lhes permitam orientar-se. Quer na Escola Secundária quer na Universidade, embora utilizando diferentes metodologias, o professor de filosofia não deverá abdicar de ser filósofo, ou seja, de se assumir como um construtor de mundos, como alguém que propõe a prática de um pensamento livre, num diálogo permanente com o universo da cultura e da tradição.
Palavras Chave: filosofia, pedagogia, ensino, aprendizagem, investigação.
Abstract: This essay is a collection of reflections about the practice of learning and teaching philosophy. It starts from a personal experience, presuming it will interest other teachers and researchers in this area. Its aim is to demonstrate the intimate link between study, research and teaching. Both at high school and at the university, the teacher should invite his students to think autonomously, by plunging them in the floating domain of questioning and providing them with the adequate tools. Although using different methodologies, according to the students' maturity, the philosophy teacher cannot abdicate from being a philosopher, which means a constructor of worlds, someone who thinks freely, in a permanent dialogue with the universe of culture and tradition.
Keywords: philosophy, pedagogy, teaching, learning, research
O QUE QUEREMOS DO ESTADO? AS LIMITAÇÕES DAS ABORDAGENS ATUAIS
José Colem, António Baião, Scott Nelson
Resumo: Os ensaios sociológicos de Max Weber há muito definiram o Estado moderno como necessariamente coercivo. Caracteriza-se pelo monopólio da protecção armada – e portanto da violência – dentro de um território ou um país. Hoje esta definição do Estado é largamente partilhada entre sociólogos e cientistas políticos. Mas o conceito de Max Weber, relacionado com um certo relativismo, foi vítima ou inspirado por uma epistemologia que o levou a convencer-se que os propósitos do Estado não podiam ser racionalmente examinados e que os ideais, a que chamou “valores”, estão fora do alcance da ciência, quer os dos canibais quer os dos liberais. Robert Nozick chegou por um caminho muito diferente a uma conclusão análoga: o Estado legítimo (mínimo) deve ser apenas um agência de protecção da vida e propriedade que tende a ser monopolista e servir de enquadramento a muitas utopias e “valores”; a neutralidade ou indiferença do Estado é a melhor garantia do florescimento de diferentes formas de vida. Neste texto tentámos explorar os argumentos de ambos os autores e mostrar os pressupostos e narrativas em que baseiam as suas ideias. Um breve confronto com narrativas alternativas muito mais antigas da legitimidade da coerção, que remontam à antiga polis, recordou-nos que os clássicos acreditavam que o seu propósito era favorecer a excelência humana e não se limitava a constituir uma arena que oferecesse uma protecção política aos agentes do mercado. Não podemos regressar aos clássicos, nem endossar a sua visão. Mas não há razão para não examinarmos diferentes concepções do Estado moderno. De facto, o Estado raramente é neutro e cabe-nos decidir se os seus recursos devem ser canalizados para proteger o mercado ou proporcionar os meios para a busca da felicidade, ou uma mistura de ambos, ou de nenhum destes propósitos. Um obstáculo a uma análise mais profunda parece ser a presunção comummente aceite de que o pluralismo é incompatível com o “perfeccionismo”, i.e., que o descrédito ou o afastamento do Estado do favorecimento de toda e qualquer concepção da vida boa é a única, ou pelo menos a melhor, garantia do liberalismo. A melhor garantia do liberalismo, segundo alguns autores, não é a tolerância de diferentes modos de capturar a verdade ou o respeito das luzes nas mentes dos outros, mas a ausência de verdade ou de convicções tanto no domínio moral como político. Com efeito, se o Estado é essencialmente um poder protector, coercivo ou violento, talvez seja preferível que seja indiferente à educação, às artes, a investigação científica ou a todas as formas de vida boa. Queremos sugerir que tal presunção merece ser clarificada.
Palavras-Chave: Estado; Weber; Nozick
Abstract: Robert Nozick finishes Anarchy, State and Utopia with the idea of a utopia where a minimal state would allow the social organization of the most different ways of life. Even if the framework is libertarian, the individual communities could reject laissez-faire market transactions or liberal democracy. Different people have different desires and some would valorize security instead of liberty, or socialism instead of capitalism. Nozick holds that the minimal state, as a framework for utopia, is an inspiring view because it guarantees that the individuals' rights would remain inviolable, allowing them to choose freely what they want to do with their lives. Should this libertarian idea be exported to the organization of different communities? Or does a larger state have some kind of importance to preserve its members' rights? Also, is it possible to understand political liberalism without the state? This is the starting point for our reflection on the role of the state in ensuring pluralism and liberty among individuals and groups. One common assumption is that pluralism or liberalism is incompatible with “perfectionism” i.e. that the state avoiding to support any particular conception of the good life is the only or the best guarantee of liberalism. Tolerance for different ways of grasping the truth or the respect for the lights in others minds is not enough but the liberal State must be grounded in the absence of any belief or truth in both the moral and political realms. Max Weber’s sociological work long ago defined the modern state as necessarily coercive. It was defined by the monopoly of violence inside a country. Even now his definition of the state is widely shared among sociologists and political theorists. But Max Weber’s conception also carried, or went hand-in-hand with the threat of relativism, and fell victim to or was inspired by an epistemological conception that ends with equal treatment for both good and bad people. In this paper we intend to explore the connection between truth and politics and return to a more ancient alternative account of the legitimacy of coercion that goes back to Aristotle’s idea of the polis as a collective venture, and question its applicability to the modern world. Our main contention is that the polis’s purpose to provide for human excellence and not just as an arena offering political protection to free market capitalists should not be lightly discarded.
Keywords: State; Weber; Nozick
A FORTALEZA DE BUHEN. UM PONTO ESTRATÉGICO PARA O EGIPTO DO IMPÉRIO MÉDIO
José das Candeias Sales
Resumo: Um dos principais desafios que se colocou aos faraós egípcios do Império Médio foi suster as incursões das tribos nómadas (os "corredores da areia") pela fronteira oriental do Delta que, nos períodos anteriores, tinham perturbado a ordem social e administrativa do estado egípcio. Para o efeito, construíram uma linha defensiva de fortificações em frente do Sinai (a chamada "Muralha do Príncipe") e multiplicaram as expedições militares na região. No sul, a Baixa-Núbia foi integrada no território egípcio e na zona da Segunda Catarata do Nilo e construíram-se também numerosas fortificações por toda a região. Estas fortalezas, de grandes dimensões, parecem, porém, ter excedido os propósitos estritamente militares. A análise das suas estruturas parece demonstrar, de facto, outro tipo de preocupações e de objectivos: a linha de fortalezas de Kuch (designação em língua egípcia para a Núbia), zona de maior concentração de fortalezas, tinha uma dupla função: controlar as mercadorias provenientes das minas núbias e do Sul (jóias, peles de leopardo, marfim, etc.) e assinalar o efectivo poder egípcio sobre os núbios e a Núbia. Neste aspecto, a antiga fortaleza de Buhen - a primeira a ser construída na XII Dinastia, no reinado de Senuseret III, por volta do ano 1860 a.C., na margem esquerda do Nilo - é um bom exemplo, de enorme valor estratégico, facilitador do controle das caravanas e das embarcações de mercadorias, devido à escassa largura do rio na área, que nos permite caracterizar a acção e a intenção dos faraós deste período.
Palavras-chave: Império Médio, Arquitectura Militar, Fortalezas, Estratégia.
Abstract: One of the main challenges presented to the Egyptian pharaohs of the Middle Empire was to hold the incursions of the nomad tribes (the "sand runners") through the oriental border of the Delta, which had, in previous periods, disturbed the social and administrative order of the Egyptian state. In order to do so, they built a defensive line of fortresses near Sinai (the so called "Wall of the Prince") and the military expeditions multiplied in the region. Down South, the Lower Nubia was integrated in the Egyptian territory and in the area of the second cataract of the Nile and there were also built several fortresses throughout the region. These, however, seem to have overpassed the strictly military purposes. The analysis of these structures seems to indicate that there was, in fact, a different kind of concerns and objectives: the fortress line of Kush (designation of Nubia in Egyptian language), area of a great concentration of fortresses, had a double purpose: to control the goods coming from the Nubian mines and from the South (jewelry, leopard fur, ivory, etc.) and to mark the effectiveness of the Egyptian power over the Nubians and Nubia. In this sense, the old fortress of Buhen – the first one to be built in the Dynasty XII, in the reign of Senuseret III, around 1860 B.C., on the left bank of the Nile – is a good example, of an enormous strategic value, that facilitated the control of the caravans and the vessels of goods transport, due to the narrow width of the river in that area, that allows us to characterize the action of the pharaohs of the period.
Keywords: Middle Kingdom, Military Architecture, Fortresses, Strategy.
A NOT SO SECRET GARDEN: ENGLISH ROSES, VICTORIAN AESTHETICISM AND THE MAKING OF SOCIAL IDENTITIES
Iolanda Ramos
Resumo: A rosa inglesa tem uma longa tradição na Grã-Bretanha como símbolo nacional, em larga medida por constituir uma metáfora que se aplica a uma mulher possuidora de beleza natural e de personalidade determinada. Na era vitoriana, a linguagem das flores transmitia um código de valores sociais e morais bem estabelecido e identificável, tendo a simbologia floral sido amplamente utilizada no domínio artístico. Numa época dominada pela industrialização, o preceito ruskiniano de se ir ao encontro da Natureza inspirou não só o esteticismo pré-rafaelita mas também inúmeras mulheres comuns que aspiravam transformar o lar num paraíso e num jardim, onde desempenhariam o papel de anjo e de rainha. Numa perspectiva crítica neovictoriana, importa reinterpretar a idealização de papéis sociais como uma construção de identidades com o potencial subversivo de dar voz a quem não se fazia ouvir. Em suma, as representações florais, quer em sentido literal, quer figurado, contribuem para um melhor conhecimento da cultura inglesa oitocentista e contemporânea. O presente artigo visa, deste modo, articular questões de género, de identidade e de história cultural.
Palavras-Chave: Mulheres, identidade social, linguagem das flores, esteticismo pré-rafaelita, cultura visual.
Abstract: The English rose has a long tradition in Britain as a national symbol, largely for being a metaphor applied to a woman who has a natural beauty and a strong character. In the Victorian age, the language of flowers conveyed an acknowledged social and moral code, and floral symbolism was widely used in the arts. In a time ruled by industrialisation, the Ruskinian "go to Nature" precept inspired not only Pre-Raphaelite aestheticism but ordinary women who longed to turn their home into a paradise as well as a garden, where they could play the part of angel and queen. Thus, a neo-Victorian perspective can reinterpret this idealisation of social roles as being close to identities with a subversive potential for giving a voice to those who could not otherwise make themselves heard. In sum, floral representations, both in the literal and the figurative sense, contribute to a better understanding of Victorian and contemporary British culture. This essay therefore aims to link gender and identity questions with cultural history.
Keywords: Women, social identity, language of flowers, Pre-Raphaelite aestheticism, visual culture.
ASSOCIAÇÃO CASA VEVA DE LIMA
Alfredo Magalhães Ramalho
Resumo: A Universidade Católica é uma das instituições culturais designadas como "sócia fundadora" da Associação Casa Veva de Lima, uma associação cultural criada conjuntamente por Maria Ulrich e pela Câmara Municipal de Lisboa, para manter em funcionamento o salon literário de sua Mãe, a escritora Veva de Lima.
Palavras-chave: Veva, Ulrich, salon literário
Abstract: Universidade Católica is one of the cultural institutions, which is considered as one of the "founders" of the Associação Casa Veva de Lima, a cultural association jointly created by Maria Ulrich and the Câmara Municipal de Lisboa in order to keep alive the literary salon of her Mother, the writer Veva de Lima.
Keywords: Veva, Ulrich, literary salon
VOZES E ECOS DE SUFRAGISTAS BRITÂNICAS EM PORTUGAL
Isabel Cruz Lousada
Resumo: Relembrando a passagem do centenário do voto de Carolina Beatriz Ângelo, pretendemos assinalar a efeméride relacionando-a com o quadro de antecedentes nacionais e estrangeiros respeitantes à questão do sufrágio. Por intermédio da presença de feministas britânicas em Portugal, ou de vozes e ecos das suas posições, ilustrar-se-á o enquadramento anglo-português perante o sufrágio feminino e o acontecimento histórico de 28 de Maio de 1911 que, embora ocorrido em Lisboa, viu as suas fronteiras serem amplamente alargadas. A família Pankhurst, em particular, foi alvo de duras e injustas críticas por parte dos(as) detractores(as) do sufragismo e dos feminismos, ainda que tenha havido quem ousasse levantar a voz em sua defesa. Procurámos, pois, dar relevo a alguns dos trechos mais emblemáticos, de modo a definir os contornos em que a contenda se terá desenrolado no Reino Unido e além-fronteiras.
Palavras-Chave: Feminismos; Sufragistas; Pankhurst; Carolina Beatriz Ângelo; Millicent Fawcett
Abstract: Recalling the centenary of the first vote cast by a woman, Carolina Beatriz Ângelo, in Portugal, we intend to mark the occasion by placing it within the context of domestic and foreign backgrounds related to the issue of female suffrage. Through the attendance of British feminists in Portugal, or by way of the voices and echoes of their positions, the Anglo-Portuguese framework in light of women's suffrage will be highlighted, as well as the historical event of May 28, 1911, which, despite having occurred in Lisbon, saw its frontiers being largely broadened. The Pankhurst family, in particular, was the recipient of harsh and unfair criticism from the detractors of suffragism and feminisms, even though there were also those who dared to raise their voices in its defense. Thus, we attempted to underline some of the most iconic excerpts, so as to define the contours around which the dispute took place, both in the UK and abroad.
Keywords: Feminisms; Suffragettes; Pankhurst; Carolina Beatriz Ângelo; Millicent Fawcett
AS HUMANIDADES E AS CIÊNCIAS - DOIS MODOS DE VER O MUNDO
Maria Laura Bettencourt Pires
Resumo: Este artigo foca o tema da separação e da dessintonia entre as teorias epistemológicas das Ciências e das Humanidades que, desde há séculos, dividem a sociedade e o mundo universitário. Refere também os desafios contemporâneos que as Humanidades enfrentam, concluindo que se encontram numa posição privilegiada para facultar um conhecimento consciente, e hoje em dia muito necessário, da história das ideias, da formação das identidades e da construção de um imaginário comum. Relata ainda que se têm dinamizado redes entre os investigadores, construído pontes com outras Ciências e quebrado barreiras disciplinares e que, para tal, têm contribuído as Humanidades Digitais, que estimulam o mútuo conhecimento e ajudam a atravessar fronteiras linguísticas e geográficas. Outro dos objectivos deste ensaio é analisar a "ruptura epistemológica" e a crise do paradigma da racionalidade científica e reavaliar a pertinência entre o saber e o poder. Pode concluir-se que as forças sociais e económicas influenciadas pelo conhecimento científico, contribuíram para instituir o primado da ciência e que, ao traçarem a trajectória do futuro, não consideraram possibilidades transformadoras, que não se identificavam com o conhecimento científico e que viriam a acabar com o chamado monopólio da ciência. Ao reflectirmos sobre o mundo actual e procurarmos soluções para os seus problemas, temos de passar de um paradigma mecânico, reducionista e linear para um que seja dinâmico, aberto e interdisciplinar. Entre os vários teóricos que reflectiram sobre o tema, são referidos Bertrand Russell, Theodor Adorno, C. P. Snow, E. O. Wilson, Dorian Sagan e Paul Feyerabend. Com o intento de promover as Humanidades e de demonstrar que a contemplação de grandes obras de arte do passado nos pode fazer reflectir sobre questões científicas e que, até ao século XVII, a arte e a ciência estavam "unidas", tendo muitos dos pintores conhecimentos em óptica, anatomia e ciências naturais, antes de terminar, evoca-se a grande figura de Francisco de Holanda.
Palavras-chave: Ciências; Humanidades; ruptura epistemológica; mudança paradigma
Abstract: This article focus the topic of the separation and lack of harmony between the epistemological theories of Sciences and Humanities, which for centuries has divided both our society and the academic world. It also mentions the contemporary challenges the Humanities are facing, concluding that they are in a privileged position to grant a nowadays very necessary conscious knowledge of the history of ideas, the formation of identities and the creation of a common imaginary. References are also made to the increment of networks between researchers, the building of bridges with other sciences and the shattering of disciplinary barriers, concluding that there has been a contribution of the Digital Humanities, which stimulate mutual acknowledgment and help the crossing of linguistic and geographic frontiers. Another of the objectives of this essay is to analyze the "epistemological rupture", the crisis of the paradigm of scientific rationality and to reevaluate the pertinence between knowledge and power. One can conclude that the social and economic forces, which were influenced by scientific knowledge, have contributed to institute the primacy of science. Thus when they traced the trajectory for the future, they did not consider any transforming possibilities that do not identify themselves with scientific knowledge and that ended the monopoly of science. When we reflect on our current world and look for solutions for its problems, we must abandon a mechanic, reductionist and linear paradigm for one that is dynamic, open and interdisciplinary. Among the several theorists who reflected on this topic, references are made to Bertrand Russell, Theodor Adorno, C. P. Snow, E. O. Wilson, Dorian Sagan and Paul Feyerabend. With the intent of promoting the Humanities, and of proving that the contemplation of great works of art from the past can make us reflect on scientific questions - and that, till the 17th century, art and science were "united", as many painters then knew about optics, anatomy and natural sciences – the article ends with an evocation of the great Francisco de Holanda.
Keywords: sciences; humanities; epistemological rupture; paradigmatic change
RECENSÃO CRÍTICA
ENTREVISTA
POESIA
CARTAS À DIRECTORA
INFORMAÇÕES SOBRE GAUDIUM SCIENDI
Nota:
A Direcção respeita a decisão pessoal de todos os autores dos textos incluídos no Nº8 da Revista Gaudium Sciendi de não escreverem segundo o novo Acordo Ortográfico.
Para citar qualquer dos artigos da Revista Gaudium Sciendi deve mencionar: o nome do autor, o título do artigo, o título, número e data da Revista Gaudium Sciendi e indicar a página em que começa e acaba o artigo.
| Voltar |
|